Photo: Pixabay
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Filosofia cristã em comunidades indígenas

O desafio maior era repassar tudo o que aprendi para meu povo indígena e os demais parentes.

South American August 11, 2017

Todo ato de ensinar é um desafio, como indígena repassar conhecimento é tão importante e natural como o nascer e o por do sol. É essencial para que possamos compreender o mundo ao nosso redor.

Cada povo traz consigo seus costumes e tradições, sua filosofia própria de compreensão de mundo e também de Deus. Crescemos sabendo que existe alguém que criou tudo o que existe, o que vemos e aquilo que não podemos ver também. Esta compreensão é repassada através de histórias cujos personagens são a própria natureza, através das quais todos aprendem a ter o cuidado e respeito com aquele que as criou.

Na minha infância aprendi com missionários americanos na ilha onde nasce, que as histórias que aprendi com minha família estavam mencionadas num livro de capa preta. Tudo era repassado com gravuras de paisagens e pessoas diferentes, tudo muito atrativo. Sempre ficávamos ansiosos para a próxima vez que fossem nos contar as historinhas daquele livro de capa preta. Só depois de muito tempo fui entender que aquele livro era a Bíblia.

Quando cresci e me tornei professora comprometida com a palavra de Deus, tudo se deu de forma simples e gradativa. Através desse processo compreendi que não podemos adentrar em outras culturas sem as conhecermos e termos respeito por elas.

O desafio maior era repassar tudo o que aprendi para meu povo indígena e os demais parentes (o termo “parente” usamos para outros indígenas que pertencem a outra etnia). Comecei como professora e contadora de história em um lugar chamado Vila de Betânea, cidade esta situada no Alto Solimões, onde vivem o povo Ticuna, no norte do Brasil.

Primeiro precisei aprender o dialeto, os costumes e a visão de Deus que eles tinham. O problema enfrentado por missionários que vão nas comunidades muitas vezes é porque não falam o dialeto e isso é uma barreira para a compreensão na troca de conhecimento.

Dificilmente um indígena confiará num estranho se perceber que este quer lhes impor alguma coisa em troca de sua amizade, pois existem hierarquias nas comunidades e são muito respeitadas. Se você conquista a confiança do líder, você conquista toda a comunidade. É um trabalho lento, mas muito gratificante. De alguma forma espero que que minha fé me ajude a fazer a diferença na comunidade que trabalho e vivo.

Author

Talita Almeida

Nome indígena Kokama, é professora de Educação Infantil. Trabalhou como professora em aldeias no Alto Solimões, Amazonas no Brasil, desde os 15 anos de idade, como bilíngüe com missionários americanos. Atualmente atua como Auxiliar de Biblioteca, promovendo o projeto como contadora de história embasado na Lei Nº 11.645, de 10 Março de 2008, que torna obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena com alunos de 3º a 5º ano. É graduanda em Direito pela Universidade de Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil.

    1 comments

  • | August 18, 2017 at 3:50 am

    As a cross-cultural church planter in rural Africa I wrestled with this challenge… I also wrestled with local educators challenging me to stop trying to change people… however, education is a major change agent… in the 21st century we need to understand people (culture) and adapt our educational methods accordingly… all the best in your endeavors!

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