“O valor da história consiste em sua faculdade de nos ensinar o que o homem fez e, nesse sentido, o que o homem é.” (historiador Robin G. Collingwood)
“Pai, conta uma história?” Todas as noites, antes de dormir, esse é o pedido insistente do meu filho. Mesmo cansado, já passando da hora de dormir, ele mantém os olhos bem abertos para que as histórias possam embalar seu sono e alimentar seus sonhos. Toda criança gosta de histórias. Como historiador penso que conhecer a própria história é tão importante quanto conhecer a história dos outros, das civilizações, do passado.
Assim, desenvolvi um projeto em que toda história merece ser contada por quem a vive, ajudando os alunos a narrarem a sua própria.
- A principal ferramenta para o projeto são os livros da literatura infantil e juvenil. Estudos apontam que esses livros são uma importante ferramenta de acesso às histórias pessoais das crianças e adolescentes. As narrativas funcionam como organizadoras do mundo interno, já que as histórias possibilitam que os alunos reinventem e vislumbrem o futuro. Podem ser trabalhados diversos temas como: amor, morte, separação, amizade e sexualidade. O trabalho do professor é cativar as crianças e adolescentes para o mundo das narrativas despertando o interesse e o prazer pela leitura. Nesse contexto, o professor não é um contador de histórias, mas um facilitador.
- Em seguida, será usado um grande álbum em branco com capa dura. Com o apoio do educador, o aluno deve ter a oportunidade de organizar um livro da história da vida dele. No álbum devem ser reunidas informações, fotografias e lembranças referentes a cada fase de sua vida. Esse livro deve ser uma produção da própria criança ou adolescente, com conteúdos de sua autoria. Ele representa um espaço de expressão e registro da vida de cada um – sobre o presente, passado efuturo. O investimento na construção do álbum transmite à criança ou adolescente a ideia de que seu conteúdo, ou seja, sua história tem grande valor.
Trabalho com crianças há mais de 30 anos e percebo como muitas vezes a história dessas crianças costuma ser definida por outros como: “você não tem futuro, não tem potencial, você vale pouco”. Quando uma criança cresce acreditando que essa é sua história, a sua visão torna-se limitada, suas escolhas ficam limitadas, e parece ser impossível sair dessa realidade. É preciso que alguém rompa esse ciclo e ajude-a a acreditar em uma história diferente. Amparar uma criança que enfrenta dificuldades é investir no futuro, tirando-a da condição de vítima para protagonista. O aluno deixa de ser um mero ator no palco da vida, interpretando sempre o papel que a sociedade dita para ele e passa a ser autor de sua própria história.
Acredito que acompanhar uma criança ou adolescente no olhar e reflexão sobre a própria história é o que torna possível que essa história, por mais difícil que seja, possa se transformar no ponto de partida para a construção de um futuro melhor. Uma história que será sonhada e realizada pela própria criança ou adolescente.