Umas das formas de melhorar os aspectos discriminatórios, chamados de preconceito linguístico, seria proporcionar ao aluno uma democratização da linguagem. PERINI (1999, P.60) defende que a escola tem o objetivo de promover o ensino cidadão e consciente da diversidade e das práticas intrínsecas da linguagem, pois linguagem e educação estão entrelaçadas com os processos de dominação. Os professores precisam trabalhar essas questões nas aulas de língua portuguesa, a fim de amenizar o estranhamento deste aluno na escola.
De acordo com Bagno, “… o que vemos é que esse preconceito ser alimentado diariamente em programas de televisão e de rádio, em colunas de jornal e revista, em livros e manuais que pretendem ensinar o que é “certo” e o que é “errado” (BAGNO,2005).De acordo este estudioso, outros elementos tradicionais de ensino da língua portuguesa, como a gramática e alguns livros didáticos também alimentam e contribuem significantemente para o preconceito linguístico.
É indubitável que o conhecimento do falante sobre sua língua é inerente a sua própria vivência em sociedade. O “erro” ou “acerto” que Bagno afirma na citação acima, é um conceito muito utilizado para chamar a atenção sobre os desvios do uso da norma padrão, é mais uma forma de punir ou excluir o falante que não segue o padrão linguístico preestabelecido pela classe dominante. Contudo, Bagno (1999, p.149) coloca que “[…] qualquer criança entre os 4 e 5 anos de idade já domina plenamente a gramática de sua língua”.
De acordo com Moura (2016, p. 84) existem os tipos de gramáticas:
- Gramática normativa ou prescritiva: Dedica-se ao estudo somente dos aspectos da língua padrão.
- Gramática descritiva: Descreve e registra as unidades, categorias e mecanismos de uma determinada língua. Valoriza o trabalho de observação e descrição que se faz de uma determinada língua em um momento e local específicos, procurando entender seu funcionamento.
- Gramática internalizada: Compreende ao conjunto de regras dominado pelos falantes de um idioma.
- Gramática implícita: Conhecimento inconsciente de todos os níveis de constituição e funcionamento da língua (fonológico, fonético, sintático, morfológico, semântico, pragmático e textual-discursivo)
- Gramática explícita ou teórica: Compreende todos os estudos da língua, por ela mesma, que procuram explicitar sua estrutura, formação e funcionamento.
- Gramática reflexiva: Envolve as atividades de observação e reflexão sobre a língua que procuram identificar e explicitar a sua formação e o seu funcionamento e, a partir destes, tenta explicar a gramática implícita do falante.
- Gramática contrastiva ou transferencial: Descreve duas línguas em concomitância, contrastando-as a fim de detectar aspectos comuns a ambas.
- Gramática geral: De acordo com BORBA (1971, p 81) “Compara o maior número possível de línguas, com o fim de reconhecer todos os fatos linguísticos realizáveis e as condições em que se realizarão”.
- Gramática Universal: TODOROV E DUCROT (1978) “Gramática de base comparativa que procura descrever e classificar todos os fatos observados e realizados universalmente”.
- Gramática histórica: Estuda a origem e a evolução de uma língua, acompanhando todas as suas fases nesse processo.
- Gramática comparada: Realiza o estudo que a gramática histórica faz, mas de várias línguas com o objetivo de encontrar aspectos comuns entre elas.
A importância de conhecer todos esses conceitos está na reflexão e na compreensão de como este conhecimento pode embasar o estudo sobre o preconceito linguístico e com qual das gramáticas este está relacionado.
Referências:
BAGNO, M. Preconceito linguístico: O que é, como se faz. 49 ed. São Paulo: Loyola, 1999
___. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2005.
___. Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
MOURA, Marilda Franco de. Linguística aplicada ao ensino de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Seses, 2016.
PERINI, Mário A. A gramática descritiva do Português. São Paulo: Ática, 1999.