Soluções para o preconceito linguístico

Regras, nomenclaturas complexas, termos exatos e inalterados não devem ser a prioridade no ensino da língua materna.

Teaching August 12, 2020

Regras, nomenclaturas complexas, termos exatos e inalterados não devem ser, portanto, a prioridade no ensino da língua materna. O ler e escrever bem é muito mais importante que as infindáveis listas para memorização. E com a aplicação dessa nova metodologia, o aluno letrado entrará em contato com as várias maneiras da linguagem e mais conhecimentos linguísticos que gramáticos. É imprescindível incentivar e desenvolver o letramento abrangente e eficaz no aluno. O que, no futuro, irá inevitavelmente afetar de forma positiva o afastamento ou até o mais absoluto abandono do preconceito linguístico.

Uma das medidas para esse grau de utilização efetiva da língua escrita possa ser atingido é escrever e ler constantemente, inclusive nas próprias aulas de português. Ler e escrever não são tarefas extras que possam ser sugeridas aos alunos como lição de casa e atitude de vida, mas atividades essenciais ao ensino da língua. Portanto, seu lugar privilegiado, embora não exclusivo, é a própria sala de aula. (POSSENTI 1996, p.20)

É preciso deixar claro que estas orientações não provocam um tipo de preconceito contra a gramática normativa e consequentemente à língua padrão. Contudo trata-se, na verdade, de tentar minimizar o preconceito, como afirma POSSENTI (1996, p. 41) “[…] que utilizem também nos textos escritos formas linguísticas mais informais”. A importância está no conhecimento de todos os possíveis textos, em suas linguagens e seus gêneros. Caso contrário, Bagno explica as inevitáveis consequências:

Esse ensino tradicional, como eu já disse, em vez de incentivar o uso das habilidades linguísticas do indivíduo, deixando-o expressar-se livremente para somente depois corrigir sua fala ou sua escrita, age exatamente ao contrário: interrompe o fluxo natural da expressão e da comunicação com a atitude corretiva, cuja consequência inevitável é a criação de um sentimento de incapacidade e incompetência. (BAGNO, 1999, p. 133)

Sim, o ensino da gramática normativa é de suma importância. É preciso escrever e impor uma gramática da variedade urbana de prestígio. Caso contrário, estaremos privando o aluno de um importante conhecimento para seu futuro acadêmico. Agora, a reflexão se dá na forma como é atingido esse processo de aprendizagem-ensino. Qual é a forma como deve-se ensinar a gramática padrão? Em termos simples e objetivos, com o intuito didático e pedagógico, que sirva de suporte para este futuro cidadão em sua competência comunicativa. Sem, obviamente, deixar de lado os textos e seus gêneros para o aluno aprenda na prática como e onde usar as regras da gramática normativa.

Nesse sentido, o professor sempre terá um importantíssimo papel no combate ao preconceito linguístico, pois caso não tenha bagagem de conhecimento atuais sobre o assunto, este infelizmente, não saberá discernir a diferença entre um “erro” ou uma variedade linguística. Outra possível ação do professor é fornecer ao aluno à informação do que é a variação linguística e o desmascaramento do mito “certo e errado”. É importante a explicação dos contextos comunicativos que se tornam adequados ou inadequados naquele momento da comunicação, e assim deixar em evidência que seja qual for a variedade linguística do aluno. É importante a aprendizagem da variante padrão para seu uso na sociedade, pois é esta variante que é utilizada no meio formal, e é a norma urbana de prestígio. Essas práticas de ensino podem ser exercidas com apresentações de momentos diversos do dia a dia, e faz parte disso o estudo dos diversos gêneros textuais, para que os alunos possam se apropriar da linguagem adequada para cada situação apresentada.

Referências:

BAGNO, M. Preconceito linguístico: O que é, como se faz. 49 ed. São Paulo: Loyola, 1999

___.  A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2005.

___. Não é errado falar assim! Em defesa do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

POSSENTI, Sírio. Porque (não) ensinar gramática na escola. Campinas, São Paulo: Coleção Leitura no Brasil, 1996.

Author

Daiane Daniele Moro Oliveira

Daiane é pedagoga e profissional de Letras - Português. Formada em Pedagogia pela Universidade Estadual de São Paulo em 2006, e formada em Letras – Português pela Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro em 2019. Trabalha há 14 anos como professora na Rede Adventista. Atualmente, tem a função de Orientadora Educacional no Colégio Adventista de Niterói, Brasil.

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